quarta-feira, julho 27, 2005

MINHA BELA FLOR

Minha bela flor
minha flor de Verão
estás bem cá dentro
do meu coração.



Estás bem cá dentro
de todo o meu ser
quanto eu mais te tenho
mais te quero ter.

Quanto eu mais te tenho
mais te quero dar
aceita o carinho
deste meu amar.

Aceita o carinho
e tudo o que sou
o meu pensamento
para ti voou.

O meu pensamento,
minha bela Flor,
dá-me fé e vida
e maior amor !


Frassino Machado
In CORAÇÕES ANSIOSOS

MEU OCEANO INCONSTANTE

Meu Oceano inconstante
colar de ondas cristalinas
feito de gotas inebriantes
onde nadam delirantes
minhas penas diamantinas.

Tua energia é triturante
como o ritmo das marés
num vai e vem permanente
onde voga consequente
minh’alma de lés a lés !

Meu Oceano de mil brumas
sem acalmia nem tino
dias longos sem descanso
com o meu coração manso
caravela sem destino.

Minha Sereia sem plumas
sol, madrugada, arrelia,
onde meu sonho naufraga
enrolado numa vaga
de sôfrega maresia !


Frassino Machado
In AS MINHAS ANDANÇAS

MEU CORAÇÃO VIAJANTE

Tenho um coração com asas
um coração palpitante
voa sempre sobre brasas
até meu amor distante:
o meu coração viajante
busca seu amor distante !

Meu amor foi viajar
com amigos preferidos
seus gostos foi reforçar
em locais bem escolhidos:
o meu coração viajante
busca seu amor distante !

O meu amor tão distante
seu descanso vai gerindo
será que em algum instante
a saudade está sentindo ?
O meu coração viajante
busca seu amor distante !

O meu coração tem pena
que meu amor se disperse
que lembrança tão pequena
amor já não lhe merece:
o meu coração viajante
busca seu amor distante !


Frassino Machado
In CANCIONEIRO

MENINA FADADA


A MENINA VIOLENTADA !!!


Seu nome é Joana nasceu sem ninguém
pois tem mãe tirana e quer ser alguém.

Em casa fechada ‘spreitando à janela
tem vida tramada com alma singela.

Faz vida de casa tem calos nas mãos
com pai tábua rasa e mais dois irmãos.

À mãe faz inveja e dá-lhe lição
sorrisos deseja e um pouco de pão.

A escola bendita é acolhedora
menina acredita que não vai embora.

Ai dia maldito porqu’é que lá vens?
Recado interdito por quatro vinténs.

Menina chegou, menina sumiu,
o mundo falou mas ninguém a viu.

A mãe perdedora vem à televisão
chorar que agora não tem filha, não.

Não sabe de nada e tem medo, tem,
‘stará abandonada nas mãos de ninguém...

Responde-lhe o vento com falsas notícias
quem sabe por dentro não houve sevícias?

Até os animais qu’ amavam Joana
faziam sinais de haver uma trama.

A mãe gaguejou perante o juiz
e o povo pensou: não sabe o que diz.

Menina fadada, que muito sonhou,
que sorte tramada ninguém t’ encontrou.

E agora a justiça em mãos já tem quente
o embuste e a liça e um crime pungente.

Seu nome é Joana morreu sem ninguém
por ter mãe tirana que não lhe quis bem !


Frassino Machado
In OS FILHOS DA ESPERANÇA

MARIA PRINCESA

Eu quero a certeza
da minha função
Maria Princesa
do meu coração.

Quiseste saber
e eu respondi
qu’ o Príncipe a ser
1513, ca i si...

O Príncipe eu sou,
tua fortaleza,
o ‘feed back’ voou
Maria Princesa.

Tu logo devias
fazer-me o endoço
pois eu d’ arrelias
já chego ao pescoço.

Eu sei, tua tarefa
a vida t’ entope
qu’ uma tal remessa
é só p’ ra Ciclope.

Mas olha, ó Princesa,
não podes ficar
de espírito presa
e assim magoar.

O tempo é de todos
queiramos ou não
e coisas a rodos
temos sempr’ à mão.

Umas são notáveis
e dão mais prazer,
outras muit’ instáveis
e fazem sofrer.

Destaco o enredo
de leda ambição
por ti, em segredo,
tens minha paixão.

Esta nossa vida
tem muit’ aspereza
porém ‘nha saída
és tu, ó Princesa !

Frassino Machado
In TROVAS DO QUOTIDIANO

LAUREADOS DO OLIMPO - HORÁCIO

Venúsia, 66 a. C. - Roma, 8 a. C.
Poeta latino. Após a sua educação em Roma e Atenas, HORÁCIO passa uns anos azarentos até que pode gozar, como Virgílio, da protecção de Mecenas, que lhe oferece uma casa de campo onde vive livre de cuidados. Horácio é o grande inovador da poesia latina, na qual introduz novos critérios métricos e uma concepção original dos quatro géneros que cultiva: os epodos, as sátiras, as odes e as epístolas. Nas Sátiras, o cuidado formal é mais importante que os temas, muito variados: relatos de viagens, descrição de um banquete ridículo, retrato de uma pessoa vagarosa, etc. Nos Epodos, parecidos com as Sátiras, inclui-se uma das obras-primas de Horácio, o Beatus ille, canto à vida tranquila do campo. As Odes são a sua obra-prima. Os temas que nelas trata, muito simples, são a expressão lírica da própria vida: o amor ( e especialmente a amizade ), a beleza da natureza ( independentemente da sua utilidade ), os prazeres quotidianos, a passagem do tempo, a ineludível chegada da morte… Horácio tem consciência de criar um lirismo novo que lega às gerações futuras, pois escreve: «Levantei um monumento mais duradouro que o bronze.» As Epístolas, cartas em verso, são também peças poéticas, se bem que nelas predomine a reflexão sobre o lirismo. A mais conhecida é a Arte Poética, em que expõe uma série de conselhos para a criação literária.

ARTE POÉTICA (1-13)

"Harmonia e proporção entre as partes da obra poética"

Se um pintor à cabeça humana
unisse pescoço de cavalo
e de diversas penas vestisse o corpo
organizado de membros
de animais de toda a espécie,
de sorte que mulher de belo aspecto
em torpe e negro peixe rematasse
vós, chamados a ver esta pintura,
o riso sofreríeis?
Pois convosco assentai, ó Pisões,
que a um quadro destes
será mui semelhante aquele livro
no qual ideias vãs se representam
( quais os sonhos do enfermo ),
de tal modo, que nem pés, nem cabeça
a uma só forma convenha.
De fingir ampla licença
ao poeta e pintor sempre foi dada.
Assim é; e entre nós tal liberdade
pedimos mutuamente, e concedemos;
mas não há-de ser tanta,
que se ajunte agreste com suave,
e queira unir-se ave a serpente,
cordeirinho a tigre.

Horácio
In ARTE POÉTICA

segunda-feira, julho 04, 2005

MEU AMOR ARDENTE, MINHA CHAMA

Este teu poema me incendiou o coração
como mais nenhum outro o conseguiu
e tão certeiro o foi que aspergiu
todo o meu ser e a minh'alma d'emoção.

Tomara estar contigo em verdadeira união
meu corpo em ti os beijos repetiu
que o sol esta manhã feliz sorriu
por ter crescido em nós esta fiel paixão.

O verdadeiro amor, pois sim, não é pecado
mais o é eu de ti estar separado
por este mar tão longo que a nós dois bem trama...

No entanto eu sei que toda a vida é passageira
e que este amor por ti é a única maneira,
tu que és meu fogo ardente, minha chama !



Frassino Machado
In O RENASCER DA AURORA

MÁGICA PAIXÃO

Minha bela feiticeira
que me tens aprisionado
diz-me qual é a maneira
de me ver apaixonado.

Deste mundo a escuridão
provocou-me a cegueira
clareia-me a razão,
minha bela feiticeira.

Seja noite, seja dia,
resolve-me este meu fado
pois é nesta fantasia
que me tens aprisionado.

O meu sonho eu sigo em vão,
ser feliz a vida inteira,
p'ra chegar a ter paixão
diz-me qual é a maneira.

Minha fada venturosa,
mágica d' amor rogado,
dá-me a poção milagrosa
de me ver apaixonado !


Frassino Machado
in O DESPERTAR DA AURORA

LABORANTES E FIGURANTES

‘Inda o sol não levantou
já mexem os laborantes
um dia mais principiou
e eles pobres como d’ antes!

Tanto bem qu’ o mundo tem,
ninguém nisso reparou,
quem é que labora, quem,
‘inda o sol não levantou?

Meio mundo tem inveja,
muitos deles figurantes,
há bom caviar e cerveja
já mexem os laborantes.

Prémios, bens, fortuna e glória,
roda qu’ a sorte lançou,
rumo de triste memória,
um dia mais principiou.

Labora quem nada tem,
com emoções provocantes,
alguns só gozam vintém
outros, pobres como d’ antes !



Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA

JUSTIÇA DE SALOMÃO

A posse e o controle da terra iraquiana
tornou-se entre muitos sede insustentável
pela riqueza que possui inesgotável
e pela história que detém qu' é sobre humana.

Os novos governantes de maneira afável
terão o ofício de cumprir 'stratégia insana
p' ra contentar talvez gente grega e troiana
e conseguir consenso fiel e sustentável.

Mas são enormes os interesses confrontados
tão grandes como o choque e a raiva entre nações
qu' a paz e a concórdia sempre impedirão ...

Dizem segredos pela história revelados
qu' o mais justo caminho nestas situações
é cortar p' la raíz como o fez Salomão !


Frassino Machado
In LIRA BEM TEMPERADA

INGÉNUA PAIXÃO

Do ciúme quanto baste
tens repleto o coração
nunca deixes que s'afaste
para longe tua razão.

O mundo está todo cheio
d'armadilhas que criaste
é pena não teres freio
do ciúme quanto baste.

Há palavras de vivência
que não valem o que são
e pela sua aparência
tens repleto o coração.

Não ajuízes o que viste
pelo peso do contraste
meu amor, esse resiste,
nunca deixes que s'afaste.

Por ti cresce dia a dia
a minha ingénua paixão
afastada não queria
para longe tua razão !



Frassino Machado
in O RENASCER DA AURORA

LAUREADOS DO OLIMPO - OVÍDIO

Publio Ovidio Nasón (43 a.C.-17 d.C.), nasceu em Sulmona, na Itália Central, de uma família conservadora de linhagem equestre à qual incomodava a atracção de seu filho para a poesia. Ainda muito joven fui enviado para Roma para estudar; teve como mestres de eloquência aos gramáticos mais afamados do seu tempo: Aurélio Fusco e Pórcio Latrão. Mais tarde viajou até Atenas, até Ásia Menor e à Sicília.
No seu regresso a Roma, inseriu-se em ambientes intelectuais, porém fo ra dos círculos de Mesala e Mecenas. Desempenhou diversos cargos públicos, contudo finalmente afastou-se da política para se dedicar plenamente à poesia, da qual transparece a sua vasta cultura e erudição. Possuidor de uma grande facilidade para compor poesia e alcançou um imenso sucesso.
A sua vida pessoal e poética está ferida pela sua lamentável condenação ao desterro. No ano 8 a.C. foi objecto de uma acusação, nunca confirmada. Augusto enviou-o para Tomos (na costa ocidental do Mar Negro, na Dácia), e teve que abandonar para sempre a família que havia formado, o seu círculo de amizades e a fama e êxito que já conhecia como poeta.
Eis duas possíveis razões que puderam motivar a condenação de Ovídio por parte de Augusto: o ter presenciado algum sucesso escandaloso no seio da família imperial; ter publicado sua Ars Amandi, que com suas conotações eróticas vulnerava a moral que Augusto pretendia impor.
Ovídio morreu no desterro, lembrando Roma e suplicando angustiosamente a uns e a outros que intercedessem junto do Imperador Augusto para que lhe fosse levantado o castigo.


Obras : Metamorfoses (Hedra, SP., trad. de Manuel M. Bocage) A Arte de Amar (Ediouro, SP) Poemas da carne e do exílio (Cia. das Letras, SP.) Heroídas


METAMORPHOSEON LIBER PRIMVS


In nova fert animus mutatas dicere formas
corpora; di, coeptis (nam vos mutastis et illas)
adspirate meis primaque ab origine mundi
ad mea perpetuum deducite tempora carmen!
Ante mare et terras et quod tegit omnia caelum 5
unus erat toto naturae vultus in orbe,
quem dixere chaos: rudis indigestaque moles
nec quicquam nisi pondus iners congestaque eodem
non bene iunctarum discordia semina rerum.
nullus adhuc mundo praebebat lumina Titan, 10
nec nova crescendo reparabat cornua Phoebe,
nec circumfuso pendebat in aere tellus
ponderibus librata suis, nec bracchia longo
margine terrarum porrexerat Amphitrite;
utque erat et tellus illic et pontus et aer, 15
sic erat instabilis tellus, innabilis unda,
lucis egens aer; nulli sua forma manebat,
obstabatque aliis aliud, quia corpore in uno
frigida pugnabant calidis, umentia siccis,
mollia cum duris, sine pondere, habentia pondus. 20
Hanc deus et melior litem natura diremit.
nam caelo terras et terris abscidit undas
et liquidum spisso secrevit ab aere caelum.
quae postquam evolvit caecoque exemit acervo,
dissociata locis concordi pace ligavit: 25
ignea convexi vis et sine pondere caeli
emicuit summaque locum sibi fecit in arce;
proximus est aer illi levitate locoque;
densior his tellus elementaque grandia traxit
et pressa est gravitate sua; circumfluus umor 30
ultima possedit solidumque coercuit orbem.