segunda-feira, fevereiro 13, 2006

OS LAUREADOS DO OLIMPO - DOM DINIS



AI FLORES, AI FLORES !



Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?

Vós me perguntades pólo voss’ amigo
e eu bem vos digo que é sano e vivo
ai deus, e u é ?

Vós me perguntades pólo voss’ amado
e eu bem vos digo que é vivo e sano
ai deus, e u é ?

E eu bem vos digo que é sano e vivo
e seraa vos c’ ante o prazo saído
ai deus, e u é ?

E eu bem vos digo que é vivo e sano
e seraa vos c’ ante o prazo passado
ai deus, e u é ?


D. Dinis ( Séc. XIII )

domingo, fevereiro 12, 2006

ESTRELA REFULGENTE



*

Neste admirável dia natalino
que ontem o bom Deus predestinou
na constelação cósmica criou
uma estrela com brilho cristalino.

Tenho o meu coração ao desatino
e a minha alma inteira mergulhou,
nos meandros labirínticos ficou,
à ‘spera de encontrar outro destino.

Tomar’ eu descobrir, esbelta amiga,
o fio condutor e a mão ardente
da bela Ariadne para qu’ eu prossiga...

Tu, porém, minha estrela refulgente
cintila lá no alto e que eu bendiga
a hora certa de me ver contente !


Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA

ESTRELA DA MANHÃ




Tu foste aquela mão que me guiou
na hora da incerteza
tu foste aquela mão que me apontou
a fonte da beleza.



Vem, estrela do novo dia,
amparo do meu carinho, vem.
Vem, vem, vem, que eu espero por ti
como quem suspira pela primavera !

Tu foste aquele olhar que me sorriu
com alma de bonança
tu foste aquele olhar que me cobriu
o manto da esperança.

Vem, estrela do novo dia,
amparo do meu carinho, vem.
Vem, vem, vem, que eu espero por ti
como quem suspira pela primavera !


Frassino Machado
In CANCIONEIRO

ESTRELA ALADA



Homenagem à poetisa
Margarida Reimão




Estrela alada do horizonte humano
deste CEN se partiu brilhando mais
qual luminoso astro entre os demais
que no Universo habita ano a ano.

Deste mundo perverso e tirano
transpôs mui radiosa os seus umbrais
deixando transtornados seus iguais
que apenas a honrarão num poema ufano.

Amiga nossa há muito desprendida,
das reles coisas que em breve se vão,
sem nada em troca oferece sua vida.

Aquele Deus que dela foi menção
lhe dará com certeza Sua guarida
e a nós nos deixará recordação !


Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

OS LAUREADOS DO OLIMPO - AFONSO X


Afonso X, o Sábio

(Toledo, 1221 - Sevilha, 1284)

Rei de Castela e de Leão. Ainda infante conquista o reino muçulmano de Múrcia em nome de seu pai, Fernando III, e intervém na guerra civil que, em Portugal, opõe D. Sancho II – abandonado por grande parte da nobreza e hostilizado pela Igreja – ao seu irmão que viria a ser o futuro D. Afonso III (1245-47), e comanda as tropas que acorrem em auxílio do primeiro. D. Sancho II, vencido, refugia-se em Toledo, onde viria a morrer e onde está sepultado. Ascende ao trono com a idade de trinta anos. No começo do seu reinado toma várias praças-fortes (Cádis, Niebla, Cartagena). Após a conquista do Algarve, em oposição ao rei de Portugal, reivindica a sua posse; o longo conflito que essa pretensão provoca sana-se com o casamento de D. Beatriz, sua filha bastarda, com o próprio D. Afonso III (1253). Porém, mais do que pelos seus méritos políticos, distingue-se este rei pela sua cultura. O seu Livro das Leis ( conhecido pelo título de Sete Partidas ), utiliza-se em Portugal como fonte de saber jurídico. De sua autoria é a colectânea de Cantigas de Santa Maria, colecção de poemas devotos escrita em galaico-português.

GESTA DE ROCAMADOR

De muitas guisas los presos
solta a mui groriosa,
santa e Virgen Maria,
tant' é con Deus poderosa.

E de tal razon vos quero
contar un mui gran miragre,
que fez por un cavaleiro
bõo d'armas e de mannas
e en servir un ric-ome
cug' era, mui verdadeiro;
e foi pres' en seu serviço,
e en carcer têevrosa
o meteron e en ferros,
como gente cobiiçosa,
De muitas guisas los presos...

En tal que o espeytassen.
Mas aquel sennor cug' era
sobr'el mentes non parava;
e ele con mui gran coita
sempre de noit' e de dia
Santa Maria chamava
que acorre-lo vêesse
como Sennor piadosa,
e que dali o tirasse,
daquela prijon nojosa.
De muitas guisas los presos...

El jazend' assi en ferros
e con esposas nas mãos
e cadêa na garganta,
aque ven Santa Maria,
a Madre de Jhesu-Cristo,
que as prijões quebranta,
e en llas britar mui toste
non vos foi y vagarosa,
e disse-ll': «Erge-t' e vay-te
daquesta prijon astrosa».
De muitas guisas los presos ...

Enton deitou-ll' as prijões
ao colo e sacó-o
ante tod' aquela gente
que o guardavan, e nunca,
pero que o yr viian,
non lle disseron niente.
E tiró-o do castelo
e disse-lle saborosament':
«A Rocamador vai-te
e passa ben per Tolosa.»
De muitas guisas los presos...

E el moveu atan toste
e foi-sse quanto ss' ir pude
como ll' a Santa Reynna
mandara; mas do castelo
foron pos el cavaleiros.
E el chegou muit' agýa,
Ca o non guiou a Virgen
Per carreira pedragosa
a Rocamador, sa casa,
mas per chãa e viçosa.
De muitas guisas los presos...

E pendorou y os ferros
Logu' e as outras prijões
que ao colo trouxera;
e contou y ant' os monges
e ante toda-las gentes
todo como ll'avêera
e como Santa Maria
en tira-lo aguçosa
fora, per que mui loada
foi porend' a Preciosa.
De muitas guisas los presos...

AFONSO X ,

“Cantigas de Santa Maria”, Séc. XIII