terça-feira, julho 11, 2006

HÁ SEMPRE UM AMANHÃ

Tu, amiga, que passaste
pelo fiel do desamor
aproveita o que sonhaste
talvez tenhas mais calor.

É assim o mundo que temos:
no princípio tudo bem,
depois quando nada temos
não contamos com ninguém.

Desde os tempos mais antigos
fez Deus este mundo assim
nele somos filhos pródigos
Ele nos quer a ti e a mim.

O amor humano é ilusão
como a vela enquanto dura
mas se houver um apagão
toda a alma fica escura.

Não vale a pena chorar
nem morrer de comoção
vale a pena, sim, gritar
vai-te embora coração !


Frassino Machado
In OS FILHOS DA ESPERANÇA

segunda-feira, julho 10, 2006

O SONHO MAIOR

Um dia sonhei
criança bonita
astuta e catita
que eu já nem sei.

Seria na escrita
que me preparei
mas quando acordei
ó minha desdita.

E fiquei tristonho
aspiração recta
era apenas sonho…

Mas coisa secreta
um final risonho
eu até sou poeta !


Frassino Machado
In RUDIMENTOS

QUANDO ME VENS VER, AMIGA ?

Quando me vens ver, amiga?
Já são tantas as promessas
que já nem sei se te diga
qu’ o mundo anda às avessas!

Tu sabes bem que te quero,
tudo me diz que prossiga,
mas mais uma vez o espero:
quando me vens ver, amiga?

Eu sei que gostas de mim,
não tens ideias travessas,
mas, sem toque de clarim,
já são tantas as promessas.

Tenho tido bons momentos
e outros que são uma ‘spiga
todos eles bons eventos
que já nem sei se te diga.

Quero p’ ra ti mil folias
entr’ outras banais remessas,
não ‘speres mais mordomias
qu’ o mundo anda às avessas!


Frassino Machado
In RUDIMENTOS

TIVE PENA, MINHA HELENA

Porque os olhos meus te não viram
que estiveste cá nessa altura
os teus, minha Helena, partiram
e co' eles tua formosura !

Tive pena, sim, tive pena
pois que novas tuas fruíram,
mais pobre fiquei, minha Helena,
porque os olhos meus te não viram.

Este mundo é tão enfadonho
nossa vida nele é bem dura
tu por aqui foi mais que sonho
que estiveste cá nessa altura.

Outros olhos por cá vagueiam
qu' a memória de ti sentiram
por eles favores escasseiam
os teus, minha Helena, partiram.

Se voltares cá, minha amiga,
quererei ver-te com ternura,
por teus olhos eu te bendiga
e co' eles tua formosura !



Frassino Machado
In OS FILHOS DA ESPERANÇA

domingo, julho 09, 2006

OS LAUREADOS DO OLIMPO - DANTE ALIGHIERI


Dante Alighieri nasceu em Florença em 1265 de uma família da baixa nobreza. Sua mãe morreu quando era ainda criança e seu pai, quando tinha dezoito anos. Pouco se sabe sobre a vida de Dante e a maior parte das informações sobre sua educação, sua família e suas opiniões são geralmente meras suposições. As especulações sobre a sua vida deram origem a vários mitos que foram propagados por seus primeiros biógrafos, dificultando o trabalho de separar o facto da ficção. Pode-se encontrar muita informação em suas obras, como na Vida Nova (La Vita Nuova) e na Divina Comédia (Commedia).
Na Vida Nova Dante fala de seu amor platónico por Beatriz (provavelmente Beatrice Portinari), que encontrara pela primeira vez quando ambos tinham nove anos e que só voltaria a vê-la niove anos mais tarde, em 1283. Nos tempos de Dante, o casamento era motivado principalmente por alianças políticas entre famílias. Desde os doze anos, Dante já sabia que se deveria casar com uma moça da família Donati. A própria Beatriz, casou-se em 1287 com o banqueiro Simone dei Bardi e isto, aparentemente, não mudou a forma como Dante encarava o seu amor por ela. Provavelmente em 1285, Dante casou-se com Gemma Donati com quem teve pelo menos três filhos. Uma filha de Dante tornou-se freira e assumiu o nome de Beatrice.
Em 1290, Beatriz morreu repentinamente deixando Dante inconsolável. Esse acontecimento teria provocado uma mudança radical na sua vida levando-o a iniciar estudos intensivos das obras filosóficas de Aristóteles e a dedicar-se à arte poética. Dante foi fortemente influenciado pelos trabalhos de retórica e filosofia de Brunetto Latini - um famoso poeta que escrevia em italiano (e não em latim, como era comum entre os nobres), tendo-se também beneficiado e influenciado pela amizade com o poeta Guido Cavalcanti - ambos referidos na sua obra. Pouco se sabe sobre a sua educação. Segundo alguns biógrafos, é possível que tenha estudado na universidade de Bologna, onde provavelmente esteve em 1285.
Na obra La Vita Nuova, seu primeiro trabalho literário de importância, iniciado pouco depois da morte de Beatriz, Dante narra a história do seu amor por Beatriz na forma de sonetos e canções complementadas por comentários em prosa. Durante o seu exílio político, por conflitos polémicos entre Florença e os Estados Pontifícios, Dante escreveu duas obras importantes em latim: De Vulgari Eloquentia, onde defende a língua italiana, e Convivio, incompleto, onde pretendia resumir todo o conhecimento da época em 15 livros. Apenas os quatro primeiros foram concluídos. Escreveu também um tratado: De Monarchia, onde defendia a total separação entre a Igreja e o Estado. A Commedia – mais conhecida por Divina Commedia – levou a escrever 14 anos e durou até à sua morte, em 1321, ocorrida pouco depois da conclusão do Paraíso. Cinco anos antes de sua morte, foi convidado pelo governo de Florença a retornar à cidade. Mas os termos impostos eram humilhantes, semelhantes àqueles reservados à criminosos perdoados e Dante rejeitou o convite, respondendo que só retornaria se recebesse a honra e dignidade que merecia. Continuou em Ravenna, onde morreu e onde foi sepultado com honras.

DANTE – OS TRÊS PRELÚDIOS

I – O INFERNO

Canto I – A selva escura - As feras - Espírito de Virgílio

Nel mezzo del cammin di nostra vita
mi ritrovai per una selva oscura
ché la diritta via era smarrita.

Ahí quanto a dir qual era è cosa dura
esta selva selvaggia e aspra e forte
che nel pensier rinova la paura!

Tant’ è amara che poco è piu morte ;
ma per trattar del bem ch’i’ vi trovai,
dirò de l’ altre cose ch’i’ v’ ho scorte.

Lo non so bem ridir com’i v’ intrai,
tant’ era pien di sonno a quel punto
che la verace via abbandonai.

Ma poi ch’i’ fui al piè d’ un colle giunto,
là dove terminava quella valle
che m’ avea di paura il cor compunto.

guardai in alto, e vidi le sue spalle
vestite già de’ raggi del pianeta
che mena dritto altrui per ogne calle.

Allor fu la paura un poco queta
che nel lago del cor m’ era durata
la notte ch’i’ passai con tanta pieta.

......

II – O PURGATORIO

Canto I - Saída do inferno - Quatro estrelas
Espírito de Catão de Útica

Per correr miglior acque alza le vele
omai la navicella del mio ingengno,
che lascia dietro a sé mar sì crudele;

e canterò di quel secondo regno
dove l’ umano spirito si purga
e di salire al ciel diventa degno.

Ma qui la morta poesì resurga,
o sante Muse, poi che vostro sono ;
e qui Caliop’ è alquanto surga,

sequitando il mio canto com quel suono
di cui le Piche misere sentiro
lo colpo tal, che disperar perdono.

Dolce color d’ oriental zaffiro,
che s’ accoglieva nel sereno aspetto
del mezzo, puro infino al primo giro,

a li acchi miei ricominciò diletto,
torto ch’io usci’ fuor de l’ aura morta
che m’ avea contristati li occhi e ‘l petto.

Lo bel pianeto che d’ amar conforta
faceva tutto rider l’ oriente,
velando i Pesci ch’ erano in sua scorta.

.........

III – O PARAÍSO

Canto I – Ascenção para o Céu —
Transumanização — A ordem do Universo


La gloria di colui che tutto move
per l’ universo penetra, e risplende
in una parte più e meno altrove.

Nel ciel che più de la sua luce prende
fu’ io, e vidi cose che ridire
né sa né può chi di là sù discende ;

perché appressando sé al suo disire,
nostro intelletto si profonda tanto,
che dietro la memoria non può ire.

Veramente quanti’ io del regno santo
ne la mia mente potei far tesoro,
sará ora materia del mio canto.

O buono Appollo, a l’ ultimo lavoro
fammi del tuo valor sì fatto vaso,
come dimandi a dar l’ amato alloro.

Infino a qui l’ uno giogo di Parnaso
assai mi fu; ma or con amendue

m’ è uopo intrar ne l’ aringo rimaso.

Entra nel petto mio, e spira tue
sì come quando Marsia traesti
de la vaginade le membra sue.
.......

FINALE