sexta-feira, julho 04, 2008

LUDOVICO ARIOSTO

LUDOVICO ARIOSTO

(1474 - 1533 )

Ludovico Ariosto nasceu provavelmente no norte de Itália, em Ferrara. A Crónica desta cidade a isso faz referência. Se teve um encontro pessoal com o próprio papa, no ano de 1503, isto leva-nos a crer que tenha beneficiado do mecenato papal, como era uso na época em que os grandes senhores eram geralmente mecenas dos artistas.
O longuíssimo romance de cavalaria, em verso, Orlando Furioso, a cuja textura não será estranha a influência tanto de Horácio e Catulo como a de Petrarca teve 1ª edição em 1516. Da sua quase meia centena de Cantos, apenas se conhece rigorosamente um, o primeiro. Foi o português Gomes Leal ( 2ª metade do Séc. XIX ) que pela primeira vez o transcreveu na linguagem de Camões, utilizando uma conhecidíssima versão francesa. E esta que aqui usamos.

ORLANDO FURIOSO

I

Canto as damas, as armas, os amores,
E os paladinos das acções faladas,
Que com as rijas lanças encantadas
Trespassaram o mouro e os seus furores.
Agramante, o guerreiro,
É que comanda as hostes à vingança
De Trojano, seu pai, morto em terreiro
Contra Carlos, e os doze heróis de França.

II

E também de Rolando ou de Roldão
Direi coisas não ditas, nem ouvidas.
Contarei como Amor lhe abriu feridas
Que dementaram seu juízo são.
Mas, para tal, preciso
Que a gentil dona de quem beijo a algema
Me não tire, ai de mim!, também o siso…
E que eu possa dar fim ao meu poema.

III

E tu – ilustre Hipólito – em que acerta
Tão bem a glória própria como o brilho
Da raça d’ Hércules de quem tu és filho,
Aceita, lhano, deste poema a oferta.
Estende a mão, e acode
Em seu favor, posto que indino e raso,
Pois anda que charro, ninguém pode
Dar mais do que o que tem!... Tal é meu caso.

TROVAS A VIEIRA

Letra e Música de :
Francisco de Assis

António, António, António Vieira,
Companhia de Jesus
António, António, António Vieira,
maravilha sem igual:
o teu verbo é sementeira
e a tua Fé é a luz,
é a Luz de Portugal !

Tu nasceste na Ribeira,
na Ribeira de Lisboa,
entre a Sé e Madragoa
e te chamaram Vieira.

Foste um menino brigão
nas vielas da cidade
e logo de tenra idade
mamãe moldou-te a razão.

Com a família partiste
para os confins da Baía
onde tal sabedoria
entre muitos construíste.

De casa saíste cedo
e não fizeste partilhas
qu’ a Virgem das Maravilhas
abençoou teu segredo.

Viste nativos caçar,
os negros muito sofrer,
que sonho houveras de ter,
se não a todos livrar?

Uma guerra perdulária,
parecendo não ter fim,
fizeste dela um clarim
com alma missionária.

Os tiranos bem temeram
o teu ousado talento
e fazendo juramento
sumir-te ali prometeram.

Chamou-te a Restauração,
nesta Terra Lusitana,
vieste co’ a tua gana
ajudar El-Rei João.

Pela Europa entre Nações
temida Guerra afrontaste,
um Rei, afinal, ganhaste
e com ele os corações.

Havia gente cobarde,
tu mesmo o denunciavas,
sua inveja destroçavas
ou mais cedo ou mais tarde.

Até, por triste mistério,
te acusaram sem razão
d’ esperar D. Sebastião
e com Ele ser Império.

Destas máscaras de Vaidade
rias tu com galhardia
entre brumas certo dia
partirias da Cidade.

P’ ra não teres mais vertigens
da loucura dos mortais
dos teus projectos leais
recuperaste as origens.

Agradecem-te as Nações
teres sido dos primeiros
e mais nobres pioneiros
a quebrar cruéis grilhões.

Sem Bandarras e sem Castros,
entre ideias viciadas,
há bandeiras desfraldadas
no pico dos Altos Mastros.

De Vieira reza a história,
haja ou não geral convénio,
ninguém foi tão grande génio
nesta Pátria sem Memória…


Frassino Machado
In “Os Filhos da Esperança”

MINHA LOUCA EVA


Confesso que esta Eva desconheço
de erotismo assumido com magia,
não sei se é realidade ou fantasia
ou apenas uma chama de arremesso...

Nessa audácia fugaz me reconheço
tomara que assim fosse um belo dia
pois que a maçã por certo comeria
de Euridice voltada do avesso.

Desconcertada vai tua paixão
na barca do destino sem parar
meus sentidos levando à perdição..

Sim, qual Orfeu rasgando a densa treva,
prometo que hei-de um dia abraçar
aquela que se fez minha louca Eva !



Frassino Machado
In MUSA VIAJANTE