segunda-feira, abril 13, 2009

SOLTEM OS DEGREDADOS



Naquelas terras para lá do fim do mundo
fizeram os humanos longo labirinto
onde habitava a toda a hora bem fecundo
feroz tiranotauro, dono do recinto.


A todo o tempo lhe entregavam por instinto
humanos degredados com terror profundo
de olhos esgazeados por ardor d’ absinto
fitando ao centro aquele monstro tão imundo.


Ó justiça inaudita se me estás ouvindo
e se alma tens, ainda que bastante abjecta,
retira dos meus olhos esta triste cena…


E já qu’ Obama se dispôs ali, carpindo,
que solte os degredados pela hora certa
e o mundo lhe prestará gratidão eterna!



Frassino Machado

In JANELAS DA ALMA

GUANTÁNAMO, MEU GÓLGOTA



As voadoras turbinas lá dos céus
desciam sobre a pista uma vez mais
deixando p’ ra vergonha dos mortais
lamentáveis dezenas de troféus.


Seus rostos vagabundos sensuais,
as lágrimas já secas sob os véus,
deixavam antever em vez de réus
vítimas inocentes de chacais.


Eis da humana justiça vil matéria,
tiranos sanguinários, negra festa,
qu’ as almas em orgia afogou.


Meu Gólgota, Guantánamo miséria,
quem gerou no teu ventre uma tal Besta
que ao Minotauro inveja levantou?



Frassino Machado

In JANELAS DA ALMA

A PÁSCOA DA CRISE



Onde se há-de comer esta Páscoa
que tão nefasta está a acontecer?
Cada dia que passa há mais sal
onde sabemos já pão não haver...

Onde se há-de comer esta Páscoa
que tão negra estamos a observar?
Cada hora que passa há mais medo
onde sabemos já paz não restar ...

Onde se há-de comer esta Páscoa
que já tão estranha está a emergir?
Cada instante que passa há mais fome
onde sabemos já a ‘sprança se ir ...

Onde se há-de comer esta Páscoa
já sem cordeiro p’ ra se imolar?
Cada vida que passa há mais morte
onde sabemos não haver altar!

Comeremos esta Páscoa, sim,
nos negros trilhos da corrupção!
Cada dia que passa há mais rosto
Sem vergonha e sem coração.

Comeremos esta Páscoa, sim,
nas tortuosas sendas da violência!
Cada hora que passa há uma mente
Sem espaço para haver clemência.

Comeremos esta Páscoa, sim,
nas míseras enxergas da doença!
Cada instante que passa há um ser
sem sentimento p’ ra dor imensa.

Comeremos esta Páscoa, sim,
nas múltiplas vielas da pobreza!
Cada vida que passa há uma alma
sem tempo para matar a tristeza.



Frassino Machado

In JANELAS DA ALMA